segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Geral e irrestrito

Ouço, leio, penso sobre feminismo há mais de cinco anos. Talvez por puro egoísmo porque o feminismo me ajudou muito a segurar várias ondas. Quando eu virei mãe, quando eu virei desempregada, quando eu virei gorda, quando eu voltei ao mercado de trabalho e diminuí drasticamente o tempo da minha filha comigo (e boa parte do cuidado dela passou para o pai).
Outra coisa que o feminismo fez por mim foi me tirar da bolha. Pasmem, mas eu achava (muito ingenuamente) que a maioria das mulheres já havia abraçado o feminismo e todas – imaginem – compreendiam que ele era a nossa luta comum. Tão ingênua, eu já fui, que nem sabia que muitas mulheres, como eu, nem tinham (e ainda não têm) o direito de se denominarem assim. Muitas não têm o direito de existir, quiçá serem profissionais, mães, cidadãs. Uma noite com a Ludymilla Santiago e uma tarde com a Daniela Andrade me ensinaram mais sobre feminismo do que todos os posts sobre o assunto no Facebook . Não fosse o feminismo eu não teria conhecido estas mulheres tão inspiradoras.
A minha própria identidade racial foi alterada pelo feminismo, porque percebi que mesmo me considerando negra deveria respeitar o fato de que a minha leitura como mulher branca no Brasil me concedia privilégios, independente da certeza de que fora do país eu seria considerada negra sem qualquer dúvida.
Por estas e outras, por mais que eu esteja longe da academia e mais distante da militância das ruas que gostaria, que me atrevo a refletir sobre o feminismo que busco para quem sabe, continuar – egoisticamente – sendo transformada por ele.
O feminismo que busco

É geral e irrestrito
Engloba todas as mulheres, sejam elas negras, cis, trans, acadêmicas, iniciantes, jovens, velhas, mães, hetero, lésbicas, celebridades, funkeiras, filósofas. Até mesmo os homens cisgêneros(*) têm espaço no meu feminismo, desde que eles compreendam seu papel no movimento de aliados e não questionem o protagonismo feminino.
(*) os homens trans (por não terem os mesmos privilégios dos homens cis)  têm um papel maior no meu feminismo sim, e homens cis terão que conviver com isso.

É crítico, mas não punitivo.
Ou seja, não impede que reflexões sejam feitas, que caminhos e aprofundamentos sejam apontados.  Ele, porém, não servirá para reduzir esforços, apontar erros sem indicar caminhos, e será paciente com quem precisa e deseja esclarecimento (e não controle).   

Respeita os recortes necessários e considera os privilégios de cada pessoa e grupo.
Todas as mulheres são em um grau ou outro, oprimidas pelo patriarcado. Porém, este grau tem que entrar na conta. É preciso reconhecer as diferenças para construir as pontes. Os privilégios sociais existem e o feminismo precisa reconhecê-los. Talvez a forma mais eficiente de fazer isso é ouvir. É se colocar no lugar do outro sem esquecer em que lugar você está. Parece a coisa mais fácil do mundo. Não é. É um esforço contínuo e não é porque você conseguiu uma vez que vai conseguir sempre. Não é porque você acha que conseguiu que isso se transformou em um fato. E a reciprocidade é necessária.

É objetivo, claro, democrático, e nem por isso raso.
Não sou acadêmica nem estudiosa do assunto. Nem por isso vou desconsiderar o que já li, o que já aprendi e o que ainda tenho a aprender. Meu feminismo quer atingir a todas as pessoas que dele necessitem, quer ajudar as pessoas como já fui ajudada. Não é preciso ser superficial para ser abrangente.

É baseado no respeito.
Porque só através do respeito a cada especificidade é possível chegar às pautas comuns e ao trabalho em conjunto. Eu que, com todos os meus privilégios (sociais, econômicos, cis, hétero), sinto diariamente o peso da opressão contra as mulheres, tenho certeza que a única forma de diminuí-la é unindo forças. Isso só será possível quando pararmos de olhar apenas para as nossas diferenças, quando pararmos de confiar apenas em quem pensa, vive e age como a gente. Apenas quando mulheres de todas as etnias, cis e trans, seguidoras do pensamento a ou b, trabalharem em conjunto.  

É uma metamorfose ambulante
 Meu feminismo é vivo e por isso está em constante transformação. Ele quer crescer, se desenvolver e para isso vai beber de todas as fontes que achar plausível.

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